quarta-feira, 5 de maio de 2021

Filme/Documentário: "Nós que aqui estamos por vós esperamos" Marcelo Massagão - Reflexões com memórias do século XX


"Nós que aqui estamos por vós esperamos" é um filme brasileiro de 1999 sob a direção de Marcelo Massagão. Ele traz o filme como memórias do século XX. O filme retrata de uma verdadeira volta ao mundo no seu contexto histórico, econômico e cultural.

Com base na história e na psicanálise, Marcelo Masagão compôs um complexo mosaico de memórias do século 20.

Seu recurso à justaposição de imagens e sequências fragmentadas, ao invés de uma narrativa contínua e linear, capturou o âmago desse tempo turbulento.

A irrupção nele da cultura moderna indicava isso: a ruptura dos elos com o passado; o imperativo da supremacia tecnológica; a penetração ampla e profunda em todas as dimensões da matéria, da vida e do universo; o anseio da aceleração, da intensidade e da conectividade; a abolição dos limites do tempo e do espaço.

O que mais marca este momento, portanto, é justamente essa multiplicação de energias, a pluralidade das sensações e das experiências, o esfacelamento da consciência e a interação com os mais diversificados contextos.

A história se pulveriza numa miríade de registros e o inconsciente aflora, magnificado pela potência das novas fontes de estimulação sensorial e pelo choque traumático das forças destrutivas deslaçadas sobre a humanidade.

Sensível e ponderado foi também o seu modo de jogar com as perspectivas de gentes simples e anônimas, nascidas no torvelinho das transformações, dragadas pelas engrenagens dos complexos industriais, o lazer massificado, a publicidade, os apelos do consumo, as alegrias da dança e do corpo liberado, os rigores trágicos das crises e da guerra.

Dando nome a essas criaturas minúsculas, ele devolve o quinhão de humanidade que lhes foi negado e destaca o modo pelo qual a dinâmica social opera pela modulação dos comportamentos, a rotinização do cotidiano e a galvanização das mentes.

Dentre a massa de anônimos ressaltam rostos famosos: artistas, cientistas, intelectuais, líderes políticos e espirituais. Funcionam como chaves que articulam tendências de ampla configuração em diferentes níveis da experiência social e cultural.

Catalisando processos em andamento, eles dão voz às minorias silenciosas e sinalizam alternativas ou consolidam estados latentes de aspiração, conformação, revolta ou ressentimento. A história é tramada nessa imprevisível dialética entre pressões estruturais, decisões individuais, desejos, pavores e projeções subconscientes, tensões sociais e a polifonia de vozes que dão forma e expressão às conjunturas.

A singela fórmula "nós que aqui estamos, por vós esperamos", gravada no portal do cemitério de província, é outro dos achados cintilantes deste filme. Por um lado, oferece um contraponto tocante às ambições grandiloquentes do século 20 e de sua modernidade. Evoca a fragilidade e os estreitos limites da condição humana, os quais têm sido ignorados por poderes e ambições que atravessaram o período impondo demandas e sacrifícios exorbitantes.

Por outro lado, apresentada no final do filme, a frase ressoa e opera como um feixe que conecta os fragmentos, nos transportando para aquele mundo, como mais uma memória que irá se somar a esse painel dramático, ligada a cada detalhe dele por vínculos de solidariedade e compaixão.

Os temas compulsivos e recursivos das músicas de Win Mertens funcionam como o nexo emotivo que nos põe em sintonia com os sonhos profundos que animaram nossos irmãos e irmãs nessa aventura histórica ainda mal entendida e inacabada, mas que obras como essa nos ajudam a vislumbrar e a compreender melhor. Creio que é isso também que eles, lá na sombra discreta do cemitério, esperam de nós.

Saiba mais sobre o filme: http://www2.uol.com.br/filmememoria/




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