segunda-feira, 23 de maio de 2022

"O eterno retorno? A corrupção parece prática imutável, mas adquiriu diferentes sentidos na história nacional." José Murilo de Carvalho

"Nas manchetes dos jornais, os escândalos de corrupção se repetem numa regularidade quase monótona. Diante de uma aparente crise geral dos valores éticos e de impunidade institucionalizada, o risco que corremos, no Brasil de hoje, é entrar num torpor cívico que não nos permita ultrapassar a pergunta: “E agora?”
Para entender o agora, talvez um bom exercício seja aplicar nossa perplexidade a uma dimensão maior. A dimensão histórica. Será que a corrupção de hoje é a mesma que a de há 100 anos? Há mais corrupção hoje do que antes? Aumentou a corrupção ou aumentou a sua percepção e a postura diante dela?

Uma seqüência de episódios reforça a impressão de que a corrupção sempre esteve entre nós. No século XIX, os republicanos acusavam o sistema imperial de corrupto e despótico. Em 1930, a Primeira República e seus políticos foram chamados de carcomidos. Getulio Vargas foi derrubado em 1954 sob acusação de ter criado um mar de lama no Catete. O golpe de 1964 foi dado em nome da luta contra a subversão e a corrupção. A ditadura militar chegou ao fim sob acusações de corrupção, despotismo, desrespeito pela coisa pública. Após a redemocratização, Fernando Collor foi eleito em 1989 com a promessa de combater a corrupção e foi expulso do poder acusado de fazer o que condenou. Nos últimos anos, as denúncias proliferam, atingindo todos os poderes e instituições da República e a própria sociedade.


Mas antes de considerar estes fatos como indícios de um eterno retorno, convém lembrar que o sentido do termo mudou ao longo do tempo. Ao falar de corrupção ao final do Império, nenhum republicano queria dizer que D. Pedro II era corrupto. Pelo contrário: se reconheciam nele uma virtude, era a da correção pessoal. Do mesmo modo, em 1930, quando os revoltosos qualificavam de carcomidos os políticos da Velha República, não queriam dizer que eram ladrões. Nos dois casos, a acusação era dirigida ao sistema, não às pessoas. Corruptos eram os sistemas, monárquico ou republicano, por serem, na visão dos acusadores, despóticos, oligárquicos, e não promoverem o bem público.


A partir de 1945, houve uma alteração no sentido que se dava à corrupção. Entrou em cena o udenismo. A oposição a Getulio Vargas, comandada pelos políticos da União Democrática Nacional (UDN), voltou suas baterias contra a corrupção individual, contra a falta de moralidade das pessoas. Corruptos passaram a ser os indivíduos – os políticos getulistas, o próprio Vargas. Foram também indivíduos que serviram de justificativa ao golpe de 1964 e mais tarde inspiraram o grito de guerra de Collor, personificados na figura dos marajás, a serem caçados.


O termo corrupção é, portanto, ambíguo. Podemos evitá-lo, recorrendo ao de transgressão. Esta palavra é menos escorregadia: transgredir é desrespeitar, violar, infringir. Quem transgride, transgride alguma coisa definível – uma lei, um valor, um costume. Além disso, a transgressão é valorativamente neutra. Não há boa corrupção, a não ser na visão de políticos como Ademar de Barros (1901-1969), que se vangloriava de fazer, mesmo que roubando. Há, no entanto, a boa transgressão. Toda corrupção é transgressão, mas nem toda transgressão é corrupção.(...)"


Continue lendo na: Revista de História da Biblioteca Nacional

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Livro - "O Conde de Monte Cristo" Alexandre Dumas (Clássicos Ilustrados) e Filme - "O Conde de Monte Cristo"

Por que ler o Conde de Monte Cristo?

Conde de Monte Cristo é inspiração para muitas histórias contemporâneas, sendo as mais recentes a série Revenge e a novela Avenida Brasil. A premissa é sempre a mesma: O protagonista sofre injustamente e volta anos depois, completamente irreconhecível e rico para se vingar.

Ao parar na Ilha de Elba, atendendo ao pedido de seu moribundo capitão, o imediato Dantes se vê emaranhado numa intriga política envolvendo a volta ao poder de Napoleão Bonaparte. E, sem ter a mínima idéia do que está acontecendo, vai preso por isso. Pessoas tentam, diariamente, envolver os outros em intrigas e armações, especialmente na base das fofocas.

Contexto: O Conde de Monte Cristo” tem como cenário a França nas primeiras décadas do século XIX, e narra a história de Edmond Dantes, um jovem humilde, porém feliz com o pouco que tinha. Edmond Dantes é um marinheiro que após meses viajando a bordo do Faraó retorna para reencontrar o pai e a noiva, Mercedes Herrera.
 

segunda-feira, 2 de maio de 2022

"Análise da música Índios - Legião Urbana" - GEA Cipriano Barata

"A música Índios da Legião Urbana nos proporciona a fazermos uma análise histórica através de sua letra. Com a letra podemos analisar os primeiros anos de descobrimento do Brasil e um pouco da relação entre colonizador e colonizado."

"Análise da música Índios - Legião Urbana" - GEA Cipriano Barata

Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha


Os primeiros contatos entre os portugueses e os indígenas aconteceu de forma amigável, os portugueses acabaram utilizando esse comportamento dos índios para retirar as riquezas visíveis até o momento no caso o Pau-Brasil. 

Quem me dera ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano de chão
De linho nobre e pura seda


Os indígenas sempre foram vistos como inocentes pelo branco principalmente pela igreja católica.

Quem me dera ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente


Com a chegada dos europeus a vida no continente americano mudou, muitos índios acabaram sendo escravizados ou mortos e os que sobreviveram tiveram que se deslocar para o interior do território. 

Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer


A ambição do homem branco é uma das características que mais se diferencia da dos índios, o indígena na sua cultura não tem a necessidade de acumulação de bens.   

Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente


Um dos objetos que mais fizeram sucesso no escambo realizado entre os índios e os brancos foi o espelho. Essa cordialidade entre as duas culturas acabou levando a mudanças na vida do índio e no seu território.

Quem me dera ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
Sua maldade, então, deixaram Deus tão triste


Juntamente com os colonizadores chegou a religião católica principalmente através dos jesuítas que tinham como objetivo catequizar os nativos. 

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim


A resistência indígena sempre existiu no Brasil, muitos tribos lutaram contra o colonizador, essa luta pela sobrevivência muitas vezes levou a morte de tribos inteiras.

E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi


Podemos entender como sendo saudades da época antes da chegada do colonizador. 

Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes


No trecho podemos entender como uma alusão a vida indígena sem a presença do homem branco, com os nativos vivendo de acordo com sua cultura.  

Quem me dera ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado


Os índios tem uma visão de mundo diferente da do homem branco com mais responsabilidades em relação ao planeta.

Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente


Muitos índios foram atacados pelos europeus principalmente em busca de mão-de-obra escrava, seja, para trabalhar nos primeiros engenhos de açúcar ou mesmo para serem enviados para Europa como seres exóticos.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim

A resistência indígena sempre existiu no Brasil, muitas tribos lutaram contra o colonizador, essa luta pela sobrevivência muitas vezes levou a morte de tribos inteiras.

E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi

Podemos entender como sendo uma saudade de uma época antes da chegada do colonizador.

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui

Nesse último trecho vemos a mudança no mundo indígena com o índio enxergando o resultado da exploração do Brasil.

Autor: Felipe Carreira. Historiador e técnico em informática. Especialista em uso de mídias e tecnologias em educação. Estuda sobre a pirataria no Atlântico com ênfase no século XVII e XVIII. Criador deste espaço virtual para o GEACB. Produz vídeos e documentários sobre a História da América.